Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual
O cineasta e entusiasta do cinema brasileiro, Carlos
Reichenbach,
autor de obras essenciais da produção nacional (Foto de
Marcelo Félix/UFSCar)
São Paulo - A vida perde muito de seu brilho e nunca mais é representada
do mesmo modo quando morre um cineasta criativo e autoral. São Paulo ficou um
pouco mais cinza e triste nesta quinta-feira (14). O roteirista e produtor
Carlos Reichenbach sofreu uma parada cardíaca a caminho do hospital, por causas
ainda não divulgadas. Faleceu no mesmo dia em que completava 67 anos.
O cinema brasileiro fica sem um de seus mais importantes criadores e
incentivadores. Com 22 filmes realizados, 21 roteiros filmados e 38
produções em que atuou como diretor de fotografia, ele era daqueles
raros artistas
apaixonados por cinema, no qual encontram uma fonte inesgotável de
prazer, a
ponto de ter um conhecimento extremamente aprofundado sobre tudo que
envolve o
ofício e a arte de filmar.
É pelo cinema também que criadores como Reichenbach
encontram o meio mais eficaz de expressar a realidade em que vivem, mas também
de refletir a respeito da riqueza de seu mundo interior e do próprio papel como
artista. Ou seja, ele era um representante do hoje cada
vez mais raro “cinema de autor”.
Além de produzir, como sócio da Dezenove Som e Imagens, ao
lado de Sara Silveira e Maria Ionescu, Carlão, como era chamado pelos amigos,
era um dos mais intensos incentivadores da prática da sétima arte no Brasil. Exerceu
durante vários anos a função de professor de cinema na Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP e, desde 2004, cuidava da Sessão do
Comodoro, no CineSesc, em São Paulo, onde exibia todos os meses filmes raros e
inéditos no circuito brasileiro.
Carlos Reichenbach nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul mas, com apenas um ano, chegou a São Paulo, cidade que adotou como sua e
sempre fez questão de retratar em seus filmes. Ele participou de importantes
movimentos cinematográficos de vanguarda na capital paulista, como o Cinema
Marginal dos anos 1960/1970 e da Boca do Lixo dos anos 1970.
Até mesmo quando o
cinema brasileiro parecia se extinguir, em função do então presidente Fernando
Collor de Mello extinguir órgãos importantes como a Embrafilme, Carlão
encontrou forças para realizar uma de suas maiores obras-primas, “Alma
Corsária”, de 1993, em que tratou da vida e da morte, ao falar de dois poetas,
amigos de infância, que reunem os mais diferentes tipos da "fauna
paulistana", no lançamento de um livro numa pastelaria do centro da capital
paulista.
luno de Luis Sérgio Person, Carlão estreou nos filmes de
episódios “As Libertinas” (1968) e “Audácia, a fúria dos desejos” (1969), e
deixou obras-primas como “Lilian M: Relatório Confidencial” (1974), “A Ilha dos
Prazeres Proibidos” (1979), “Império do Desejo” (1981), “Filme Demência”
(1985), “Anjos do Arrabalde” (1987), “Dois Córregos” (1999), “Garotas do ABC”
(2003) e – o mais recente – “Falsa Loura” (2007).
Carlos Oscar Reichenbach
Filho era casado com Lygia Reichenbach e deixa três filhos e uma neta. “Nós
vivenciamos muita coisa em muito pouco tempo e tínhamos um sentido, sobretudo, ‘canibal’
da cultura, de buscar uma síntese, utilizando o que havia de melhor ou pior”.
Assim, o cineasta definiu o cinema marginal, do qual foi um dos mais assíduos
representantes, à “Revista do Brasil”, de setembro de 2010, deixando mais uma
de suas inúmeras lições.
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